Virada Cultural: Um Espetáculo de Contrastes *

Música, teatro, espetáculo de dança, cinema, circo e performances de artistas de rua – tudo de graça -, fez com que boa parte do público presente a Virada Cultural - cerca de 4 milhões de pessoas segundo dados da prefeitura – tivesse diferentes reações. O evento, que ocorreu neste final de semana em São Paulo, proporcionou um misto de sensações: Uns adoraram, outros odiaram. Não poderia ser diferente em um mega-evento como esse, afinal a diversidade sempre fez parte da cidade de São Paulo.
Para o estudante Paulo Rodrigo, 25 anos, morador do Jabaquara, a Virada Cultural foi excelente. “Nunca tinha ido, achei bem organizado, valeu à pena”, conta. Paulo assistiu a apresentação do cantor inglês Paul Di´Anno no palco montado na Pça. da República, dedicado ao rock. “Acompanho a carreira do Di´anno há bastante tempo, foi legal ver ele cantando as músicas da época do Iron Maiden”, diz o estudante. O ex-vocalista da banda de heavy metal fez sua performance em pouco mais de uma hora e a maioria das músicas foram tiradas do álbum “Killers”, o último que ele gravou com o grupo, em 1981.
Mas nem todo mundo gostou da Virada Cultural. Érika, 23 anos, moradora de rua e ambulante, teve que deslocar-se para conseguir dormir. “Montaram o palco bem onde ficava minha “cama” [referindo-se ao local reservado para um show na Rua Barão de Itapetininga], aí aproveitei para vender essas capas para celulares”, diz. Um amigo de Jonas, 33 anos, morador do centro, sentiu-se incomodado com o barulho. “Ele não é muito de festa, ainda mais quando é bem perto do apartamento dele”, conta com um sorriso no rosto. “Eu vim para ver o balé da Ana Botafogo e fiquei deslumbrado. Nunca tinha visto algo tão bonito em toda a minha vida”, emociona-se Jonas.
A vendedora de cachorro-quente, Maria, 44 anos, diz que a Virada foi boa pra ela. “Consegui vender bastante, teve uma hora que não tinha mais pão pra fazer os lanches e a cerveja vendeu muito também”. Houve também quem reclamasse da sujeira que ia se acumulando pelas ruas do centro. “Era tanto papel, lata no chão e também vi umas dez pessoas fazendo xixi no meio da rua ou escondidos atrás de árvores. O pessoal podia esperar a vez pra usar os banheiros”, afirma Marcello, estudante de 19 anos. E ele tem lá sua razão. A organização do evento colocou a disposição de quem freqüentava os shows, 350 banheiros químicos, próximos aos locais destinados as apresentações. E a estrutura não parou por aí. Segundo a prefeitura, que organizou a Virada Cultural, foram contratados 1.200 seguranças particulares, além de 3.300 policiais militares que garantiram a tranqüilidade em boa parte do evento. A segurança não registrou grandes problemas. Para o soldado Celso Mattos, da PM, que cuidava da segurança com mais quatro policiais na Rua 24 de maio, a madrugada de sábado para domingo foi tranqüila, fato que para o comerciante Luís, 40 anos, é algo a ser comemorado. “Aqui na Pça da Sé, ano passado, teve aquela confusão na hora do show dos Racionais Mc´s. Graças a Deus esse ano não colocaram shows aqui, então estou conseguindo trabalhar em paz”, conta o comerciante, que trabalha com o pai em uma banca de jornais. “A banca nunca fecha, eu e meu pai nos revezamos, só fechamos uma vez, no dia do falecimento da minha avó”. Mas, como em todo evento desse porte, ocorreram pequenos incidentes. Por volta das 17h do sábado – antes das apresentações terem início -, houve um pequeno tumulto, rapidamente controlado pelo polícia. Próximo ao Theatro Municipal, um rapaz estava vendendo, a R$1,00, folhetos que eram distribuídos gratuitamente em alguns locais do centro. No material, muito procurado, havia o local e os artistas que se apresentaram. A polícia foi avisada, interceptou o rapaz (aparentemente embriagado), que foi advertido e liberado. Houve também um princípio de confusão quando um garoto foi acusado por uma menina de roubo. Abordado por policiais, que pediram para os curiosos se afastarem, ele negou. Apesar de um ou outro contratempo, quem assistiu as apresentações garantiu que foram ótimos momentos de lazer, diversão e cultura.