Baba de Cobra : O Veneno Independente


Capa do cd "Olho Virado", primeiro trabalho da banda Baba de Cobra.
Foto: Divulgação



Como disse no post passado , conheci o Baba de Cobra através do contato que eles fizeram aqui no blog. O quinteto paulistano, que foi formado em 2006, conta com Marcos Duprá (vocal e teclado), Fernando Hipólide (guitarra), André Pedrão (baixo), Marcelo Adrio (bateria) e Ricardo Bueno (percussão), todos com passagens por outros grupos independentes. Confesso que o nome da banda foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Fiquei me perguntando: "Baba de Cobra, o que seria?".
Em entrevista (por e-mail) os caras, me deram a resposta. "O nome da banda veio da música homônima do Marcos (Duprá). Nós pensávamos que já tinha algum outro grupo que se chamava 'Baba de Cobra', por ser uma expressão popular para se referir a uma pessoa venenosa, mas descobrimos que não havia, daí ficou esse nome", explica o guitarrista Fernando. Com influências que vão dos Mutantes ao rock inglês, a banda merecia ser mais bem divulgada (esse é o meu humilde intuito aqui no blog). O primeiro cd "Olho Virado", lançado ano passado, foi gravado no estúdio do baterista Marcelo e produzido pela própria banda.
Os integrantes já se conheciam de outros "carnavais" e decidiram se juntar. "O Marcos tinha um trabalho próprio que precisava divulgar. Ele me conhecia, eu conhecia o André, que conhecia o Marcelo, [começamos tudo] através de nossos elos musicais", relembra Fernando.

A sonoridade do Baba de Cobra é uma "mistura" de diversos elementos: Blues, soul, rock, reggae e até o baião (!), tudo isso está presente no som da banda. "A intenção de nossa música é não se prender a um estilo porque isso limitaria a liberdade de criação. Acho que o intuito principal da banda é a invenção", arrisca o vocalista e tecladista Marcos. Um belo exemplo dessa boa "invenção" é a faixa "Trapezista sem Rede". Com participação de Morena Rosa, a música tem toques de soul e blues. "A Morena, com sua voz marcante, foi convidada pelo baterista (Marcelo Adrio) quando ele tocou no cd "Morena canta Clara", no qual ela interpretava músicas da saudosa Clara Nunes", conta o baixista Pedrão. Outra faixa do disco a ser destacada é "Muda", com a participação mais que especial de Paulão, vocalista das "Velhas Virgens". "A música precisava de uma pegada mais roqueira, e ele[Paulão] enriqueceu o CD com o que faz de melhor. Foi uma grande satisfação poder contar com ele nesse trabalho.", lembra Fernando. As letras do primeiro trabalho do Baba de Cobra tratam de diferentes assuntos, algumas com "pitadas" de poesia, como na faixa "Fragmento": "...Vento na tempestade , saudade na eternidade. O nosso amor é o incorreto[...]Muito além do raciocínio. Sempre incerto mas tão vivo. Minha alma, tua alma, nossa calma. O nosso amor é um mistério[...]". As composições são feitas com a participação de todos os integrantes. Mas os trabalhos iniciais são feitos por Marcos e o guitarrista Fernando."Nós dois usamos o computador e fazemos os arranjos dos instrumentos em trilhas midis . Depois levamos a música para a banda e então eles reconstroem tudo!!!", brinca Marcos. O cenário underground ainda é muito fechado e o Baba de Cobra sofre com a falta de espaço para divulgação e propagação da música independente. "Falta apoio como casas e espaços alternativos e a não remuneração [desanima], muitas vezes 'pagamos' para tocar", lamenta Pedrão. Por outro lado, estamos na era da internet e isso ajuda. "Há 20 anos, quando montamos nossa primeira banda, gravamos uma demo maravilhosa e ela 'morreu' conosco. Hoje, com a internet, você coloca o som da sua banda e as pessoas ouvem seu trabalho", diz o vocalista Marcos. Outro aspecto ruim para bandas do cenário "não-comercial" é que os integrantes não conseguem "viver" de música. A maioria, para se sustentar, tem outra profissão. É o caso do Baba de Cobra.

Claro que os caras pretendem sair do underground paulistano e mostrar seu trabalho para outras pessoas. Com certeza o apoio de um grande parceiro viria a calhar, mas a banda faz ressalvas. "Se uma gravadora estiver disposta a investir no som que estamos fazendo, então será um prazer trabalharmos juntos. Se quiserem impor condições ridículas como alterar a proposta que temos, não[assinaremos]", enfatiza Marcos.

Com a "avalanche" do funk carioca e de outros (péssimos) ritmos, a (boa) música acaba perdendo espaço. As pessoas são reféns da chamada "cultura de massa", tornam-se menos pensantes e perdem o "poder" que têm para ajudar a transformar um país. O interesse pelos problemas do Brasil também é deixado de lado. O que fazer então? O Baba de Cobra dá uma dica. "Creio que a boa música pode contribuir, e muito, para mudar as pessoas, o que, no meu entendimento, é a mudança que realmente interessa; daí advém tudo o mais. A boa música tem o poder de mudar as pessoas para melhor, ao colocá-las em contato com o belo, que, de acordo com os mestres da Antigüidade, anda acompanhado do bem e da verdade. O funk carioca tem esse poder também, infelizmente no sentido contrário", decreta o guitarrista Fernando. Mas será que querem uma sociedade com pessoas melhores e que pensem? Hoje em dia, alguns políticos, querem justamente o contrário...


Para ouvir as músicas do Baba de Cobra, acesse o myspace da banda.