Amigos, depois da avassaladora estreia da Drica Mendes, com a crítica de Torto Arado, publicada no mês passado, decidi convidar mais uma amiga para colaborar com o blog, a Larissa Dias, que também é autora e a quem entrevistei nesse post aqui, sobre seu livro novo.
Espero que curtam, assim como eu!
Por Larissa Dias*
Se tem algo que admiro muito nesse vida são as sincronicidades, aquelas coincidências com um significado, pois para mim são as suaves formas que os deuses tem de clarear os caminhos, que as vezes parecem escuros demais para serem vistos pelos temerosos olhos humanos.
Assim como já havia ocorrido com outra obra do autor Fábio Gimovsky, encontrei novamente uma feliz sincronicidade nesta obra: desta vez, com a sacerdotisa chamada Indira, pois também é o nome de uma personagem do meu primeiro livro “O Sopro de Vênus”, que também acaba, de algum modo, envolvida em uma historia de um “profundo sono”.
Neste livro, o autor usa como fundo a história conhecida de todos nós, da Bela Adormecida, mas insere elementos interessantes que perpassam por algumas culturas, inclusive a nossa, para falar sobre o sagrado feminino.
Em uma bela representação das Dançarinas do Ar, que são esses seres rarefeitos, incapazes de serem tocados, mas que podem ser sentidos, Fábio mostra que dançar o ar é seguir para onde o vento deseja nos levar. Personificar esse ato tão sagrado do ser humano foi uma grande expertise, pois acabamos encontrando nestas páginas Sofia descobrindo sua vocação, seu objetivo de vida. A forma como ela ama isso e nos passa esse sentimento no livro é sensacional!
A temática da maldição que envolve os Espíritos da Floresta, provando que nem mesmo eles podem fugir da sombra que habita cada um de nós é muito interessante. E como é difícil lidar com essa sombra! Personagens como Mestre Apolônio também são muito intrigantes, pois trazem a grande sabedoria que se perde nela mesma, mostrando a necessidade da mais perfeita humildade quanto mais conhecimento vamos adquirindo.
Lendo este livro, percebi no durante como eu estava conectada a alma de Sofia, primeiro por ser uma dançarina, algo que não sou mas que tenho a dança como verdadeira paixão e depois por ser alguém que acredita no seu caminho. Demorei muito para encontrar o meu, mas hoje eu realmente acredito nele e em toda a diversidade que ele carrega.
O livro traz também o aparecimento de Enlil, essa grande divindade do ar da Suméria, o responsável por fazer a vida existir por ter separado (ou conectado) com o sopro da vida os deuses An e Ki, a Terra e o Céu! Diversas divindades, de muitas culturas traziam essa imagem da vida soprada pelos sons. Neste livro, Enlil queria comandar a sua vida, mas talvez tenha se esquecido que isso só ocorre com a total entrega e ele estava preso a um passado que já não existia mais no tempo atual. Talvez sair do espaço/tempo o fez acreditar nesta ideia, mas ao voltar para ele, a ideia não poderia permanecer e isso fez de Enlil o vento rancoroso que aparece no episódio do labirinto.
Mas tem algo que me chamou muito atenção nesta história: não há como o “casal” se conectar “para sempre”, uma vez que o seu feminino em “O Vento e a Sacerdotisa” parece ser uma imagem da Grande Alma, aquela que podemos sentir, mas não TER. Acho isso tão valioso de ser trazido e confesso que fiquei imensamente curiosa se nos demais livros do autor esse feminino aparece desta forma, inalcançável.
Embora a história seja muito interessante, o que me chamou mais atenção foram as inúmeras inspirações que tive ao lê-la. Não é a primeira vez que isso acontece com livros deste autor, que nos presenteia com uma conexão sem tamanho feita através de suas palavras muito bem escritas e, com certeza, das capas dos livros que ele mesmo pinta de forma tocante e muito inspirada. Por isso, deixo aqui a indicação não só deste, mas dos demais livros dele, que serão relançados em 2022 pela editora Urukum!
Essa é a verdadeira teia da nossa vida: um emaranhado de relações que se soubermos aproveitar, farão de nós joias penduradas na noite escura da alma do mundo!
*Larissa Dias é Psicoterapeuta e Orientadora profissional, escritora e mitóloga.