Para celebrar o retorno aos palcos e o lançamento de um novo single ("Vai Virar Prédio"), o primeiro desde 2017, a banda Ecos Falsos participa desta edição dos Discos Essenciais, escolhendo os álbuns que influenciaram cada um dos integrantes.
Os caras têm show marcado para o dia 28 de junho de 2024, no Picles, em São Paulo, e fizeram uma a verdadeira seleção musical repleta de clássicos da música - recheada de histórias sensacionais por traz dessa lista. Confira abaixo!
Davi Rodriguez (Bateria e voz)
Mutantes - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado
Quando criança eu fui muito influenciado
por um tio colecionador de hard rock gringo dos 1960/70, (Black Sabbath direto na
veia); mas fiquei alucinado demais quando descobri o Divina Comédia na adolescência dos anos 1990.
Principalmente pela criatividade e autossuficiência deles (fazendo música muito
inovadora e ainda por cima construindo os próprios instrumentos). É O disco
que eu levo pra uma ilha deserta.
Stooges - Funhouse
Funhouse é o [disco] que eu mais ouvi e ouço
na vida. É perfeito, do começo ao fim - performance, gravação,
letra, timbres, energia, tá
tudo ali.
Les Robespierres - Liberdade Liberalidade
Moro hoje em Frankfurt (Alemanha), mas antes morei em Hamburgo por 5 anos e, lá, descobri um selo local chamado Buback, que, entre muitas coisas legais, tinha esse disco de "uma banda alemã que toca garage punk malemolente com letras em português". Durmamos com essa.
Moacir Santos - Coisas
Esse disco me foi mostrado pelo Paulo César Peréio, que acabou de falecer [maio de 2024]. Nos anos 2000 eu e alguns amigos nos aproximamos dele nas noites de show da Rua Augusta, jogando sinuca, bebendo, e conversando sobre tudo. Uma vez perguntei pra ele sobre alguns músicos do Samba Novo que ele conhecia (sempre fui muito fã do Edison Machado) e ele me perguntou se eu conhecia esse disco. Virou um favoritaço, e uma memória muito boa dessa época.
Betty Davis -
They Say I'm Different
Outro álbum que me deu uma porrada no estômago - pesado, doidão, dançante, malvado e delicioso de ouvir. Betty Davis merece muito mais reconhecimento do que ganhou, mesmo postumamente.
Felipe Daros (Guitarra)
Jorge Ben - Tábua de esmeralda (1974)
Conheci a Tábua de Esmeralda mais ou menos em 2005, época movimentada: tinha acabado de conhecer minha esposa (Luciana Orvat, então minha namorada) e tava saindo de casa pra morar com ela, trabalhava na finada casa de shows Via Funchal, os Ecos Falsos tavam tocando pra caramba e eu tava conhecendo um monte de gente nova.
Nesse período, por influências diversas, comecei a mergulhar pesado na discografia brasileira (Caetano, Gil, João Gilberto, Chico, Tom Zé, Bethânia, Novos Baianos …) e Jorge Ben foi aquela flechada. Força Bruta, África Brasil, Solta o Pavão, Samba Esquema Novo, mas foi a Tábua que mais me impactou. Fiquei meses ouvindo sem parar e ainda hoje ouço e me surpreendo com a qualidade do disco, das letras, a temática…. Coincidentemente, esse ano a Tábua completa 50 anos do lançamento, então fica minha pequena homenagem aqui.
Milton Nascimento - Clube da Esquina (1972)
Minha família pelo lado materno é toda mineira, contudo, não foi lá que conheci a discografia do Milton. Quem me apresentou, hit atrás de hit, até que eu tive vontade de descobrir música por música, foi a onipresente Lu Orvat. Acredito que esse disco esteja no imaginário de todo brasileiro por conta dessa capa, mas ele também tá recheado de música boa. Milton é um grande feiticeiro e tem provavelmente a voz mais bonita da MPB. Eu amo esse disco, Milton é gigante.
Cartola - 1974
No início de anos 2000, no garimpo da discografia brasileira, encontrei muitos discos de samba: Paulinho da Viola, Bezerra da Silva, Noel Rosa e, sobretudo, Cartola. A simplicidade e sofisticação dele são emocionantes, e tanto o disco de 74 quanto o de 76 mostram muito disso (e são maravilhosos). O álbum de 74 especialmente é uma pedrada atrás da outra, não dá pra pular nenhuma música. Lembro de diversas vezes sentar com meu saudoso irmão e ouvirmos o disco de cabo a rabo compartilhando baseados. Tempo bom que não volta nunca mais.
Racionais MCs Nada como um dia após o outro – Chora Agora / Ri Depois (2002)
Um primo mais velho me apresentou o Raio-X do Brasil, por volta de 1995, e desde então todos os discos dos Racionais sempre me provocaram profundamente – entendi sobre desigualdade social, racismo, privilégio branco e mais um monte de coisas ouvindo a discografia deles. Mas Nada Como um Dia Após o Outro me pegou muito. Mano Brown e os Racionais são, sem dúvida alguma, pilares fundamentais da música brasileira – e nos deram uma baita aula de Brasil desde 1980 pra cá. Vida longa aos Racionais!
Júpiter Maçã - Uma tarde na fruteira (2007)
Quem me apresentou Uma Tarde na Fruteira foi Hélio Flanders (Vanguart),
Santarosa Barreto (artista plástica) e Julio Nganga (ex
Vanguart e Major Luciana), por volta de 2008. Estávamos na casa da Santarosa – aguardando ansiosamente por um
lanche do Toninho e Freitas –,
eles botaram o disco pra tocar e nós
ouvimos ali o disco todo. Júpiter era muito sofisticado, se você não conhece, procure saber.
Uma história curiosa é que em 2007, acredito, tocamos no Goiânia Noise na mesma noite que o Júpiter. Chegamos na cidade na mesma hora que ele e acabamos dividindo a mesma van pro o hotel. Eu nunca tinha visto o Júpiter pessoalmente, fiquei impactado, ele estava com o cabelo relativamente comprido e descolorido, uma figura marcante.
No meio do caminho não resisti e perguntei qualquer coisa pra puxar assunto, ao que ele me respondeu latindo. Ele segurou o personagem canino durante todo o trajeto e ainda respondeu mais umas duas pessoas latindo no caminho. Eu fiquei completamente constrangido, certo que ele tava tirando uma com a cara de nós todos (na certa estava! kkkk). Hoje em dia, relembrando a situação, acho que foi muito do caralho, completamente Júpiter.
À noite, depois do nosso show, ficamos pra assistir o show dele e foi muito foda. O Centro Oscar Niemeyer tava lotadaço e ele mal precisava cantar as músicas, tava todo mundo cantando junto, galera parecia estar esperando o show há uma década.
Daniel Akashi (Guitarra e voz)
Caetano Veloso -
Caetanear
Este disco para mim é um puro suco de nostalgia. Lembro
de ficar prestando atenção nas melodias no banco de trás do carro enquanto viajava
(fazia longas viagens até a Bahia). No repertório de fitas K-7 intercalavam a
discografia do Rumo e Trem da Alegria.
Go Back - Titãs
Ganhei esse disco de aniversário quando
era pré adolescente.
Hoje sou pré idoso
e continuo ouvindo.
Radiohead - OK Computer
Já adolescente, eu costumava ir à Galeria
do Rock comprar CDs. Green Day, Offspring, Blur, Weezer, Nirvana, Pearl Jam...
Quando me deparei com o OK Computer, tive
aquela sensação de mente explodindo. Eu já gostava muito do The Bends e achei
que fosse encontrar mais do mesmo, da mesma forma como todos os discos da minha
adolescência estavam me entregando (não que eu não gostasse disso). Mais
tarde veio o In Rainbows e passei novamente por esse processo.
The Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness
Disco duplo que me causou uma primeira
impressão muito parecida com o OK Computer. Eu comprei por já conhecer algumas
músicas que passavam na MTV.
Músicas com muito peso, alternado com
ritmos calmos e lullabies, explorando outros instrumentos como piano, harpa e
orquestra. Mais um dos que ouço até hoje.
The Beatles - Abbey Road
Difícil escolha (eu poderia ter listado apenas disco dos Beatles). O último disco a ser gravado pelo quarteto de Liverpool, que apesar do turbilhão de brigas e intrigas, veio repleto de pérolas e um medley sensacional.
Gustavo Martins (Guitarra e voz)
Rolando Boldrin - Rolando Boldrin (19??)
/ Zenilton - Forró Meio a Meio (1985)
Sei que estou roubando aqui [escolhendo dois discos em um], mas me refiro a uma fita cassete que meus pais colocavam para tocar durante nossas viagens de Uno Mille nos anos 1980. Rolando Boldrin imprimiu em mim o poder de uma boa história contada com música, e a cara-de-pau do Zenilton que não há porquê ter vergonha de ser meio cretino de vez em quando, se as pessoas estão se divertindo.
Língua de Trapo - 17 Big Golden Hits
Super Quentes Mais Vendidos No Momento (1985)
Outro que ouvi por conta do meu pai (que foi sócio de uma loja de discos), além de me fazer rir muito, me fez enxergar o elemento ridículo que existe em ser um “artista”, ter “hits”, lançar discos que as pessoas compram… a partir dali, comecei a desconfiar de todo mundo que leva esse processo ou a si mesmo muito a sério. E tem uma faixa de quatro segundos chamada “Merda” que é só alguém falando “merda”, pra alguém com 10 anos, essa é a coisa mais genial que existe.
Sepultura - Chaos AD (1993)
Esse foi o primeiro CD que eu comprei, junto com a trilha sonora de “Tartarugas Ninja 3”, só porque achei maneira a capa enquanto fuçava na loja (pobres gerações atuais, que não tem mais essa experiência). E a energia bruta desse disco (começa com “Refuse/Resist” e depois já vem “Territory”, sacanagem) me fez até hoje ficar impaciente com música que não tem pelo menos um pouquinho de distorção.
Pearl Jam - Vitalogy (1994)
Eu já gostava da banda antes, mas o que esse disco mudou em mim foi a embalagem. Era como um livrinho que você abria, cheio de rabiscos, anotações, códigos secretos… Imagino que foi um pouco como os boomers se sentiram caçando referências a Senhor dos Anéis nas letras do Led Zeppelin, sei lá. Mas trouxe pra mim essa noção que um disco pode ser uma experiência maior que a música também, um pequeno universo pra se perder lá dentro enquanto tocam uns riffs maneiros no rádio 3 em 1.
Stephen Malkmus - Stephen Malkmus (2001)
Eu curiosamente conheci o Pavement de trás pra frente — já tinha ouvido “Cut Your Hair”, claro, mas foi só quando caí nesse disco, nem lembro porquê, que me toquei que era aquela combinação de guitarra Fender, um certo desleixo na execução, melodias criativas sem serem pretensiosas (e letras idem) eram tudo que eu queria fazer na música. Sei que é bem heresia falar isso, mas diria até que gosto mais da carreira solo dele (mas fui no show deles agora em São Paulo e achei foda).
Abaixo, o serviço para o show do Ecos Falsos, em São Paulo.
Serviço
Ecos Falsos lança seu novo single “Vai Virar Prédio”
Quando: 28 de junho de 2024, às 21h
Onde: Picles - Rua 𝐂𝐚𝐫𝐝𝐞𝐚𝐥 𝐀𝐫𝐜𝐨𝐯𝐞𝐫𝐝𝐞, 1838 - Pinheiros - São Paulo - 𝐒𝐏