Home / Cinema e Streaming / Crítica: The Morning Show – Quarta Temporada

Crítica: The Morning Show – Quarta Temporada

Série da Apple TV+ está mais ambiciosa, mais estrelada e mais desbalanceada. Foto: Divulgação.

Os bastidores do jornalismo sempre atraem muito interesse, especialmente para quem gosta deste universo. A quarta temporada de The Morning Show, da Apple TV+, é uma dessas produções que mostram tudo que ronda o programa que leva o nome da série. E nesta quarta temporada, o seriado abraça de vez o caos elegante que sempre o caracterizou, mas desta vez, com alguns tropeços.

São tantas histórias paralelas, tantas frentes dramáticas e tantas disputas de poder que, em vários momentos, parece que acompanhamos três séries diferentes correndo em alta velocidade. E, curiosamente, essa mistura funciona. A temporada é frenética, ambiciosa e recheada de reviravoltas que realmente surpreendem, da política ambiental explosiva ao filo dramático da desinformação e da IA, que sempre ameaça o trabalho dos jornalistas.

Jennifer Aniston, mais uma vez, carrega boa parte da série com uma performance afiada, emocionalmente densa e estrategicamente controlada. Alex Levy está no auge do poder, mas também à beira do colapso. Aniston encontra nuances que fazem a personagem oscilar entre fragilidade e brutalidade com uma segurança impressionante, especialmente com seus romances improváveis com o personagem de Jon Hamm (inspirado, claramente, em Elon Musk). É, de longe, uma das melhores fases dela na série.

A chegada de Marion Cotillard como Celine Dumont é o grande acontecimento da vez, desde o primeiro momento em que ela aparece em cena. A personagem traz uma elegância fria, quase hipnótica, que chacoalha a dinâmica da UBN e eleva o nível das intrigas corporativas. Cotillard oferece exatamente o que a série precisava: uma antagonista sofisticada, estratégica e profundamente consciente do jogo de poder que está jogando. A sua presença injeta um charme perigoso e reposiciona a temporada num lugar mais adulto, mais político, mais instável.

Ao mesmo tempo, a série tenta dar conta de um arsenal de subtramas: fusões impossíveis, chantagens tecnológicas, crises de audiência, rivalidades internas, romances que acendem e apagam. É um mosaico que impressiona, mas também cansa. Há momentos brilhantes — especialmente os episódios centrais, onde política, jornalismo e vaidade executiva se chocam de maneira irresistível —, mas nem todas as histórias recebem o mesmo cuidado. Algumas surgem fortes, outras evaporam rápido demais.

E é justamente nesse excesso que mora o ponto mais sensível da temporada: o escanteamento de Reese Witherspoon. Bradley Jackson, que sempre foi uma das espinhas dorsais da narrativa, aparece menos, faz menos e pesa menos na trama. A sensação é de que a personagem começou grande, incisiva, moralmente conflituosa, mas termina quase lateral, engolida pela expansão de novos personagens e da própria ambição do roteiro. É um deslocamento estranho, especialmente vindo de uma das protagonistas originais da série, e deixa um vazio perceptível na reta final.

Ainda assim, mesmo com seus desequilíbrios, a quarta temporada entrega o que The Morning Show faz melhor: drama grandioso com comentários afiados sobre mídia, poder, ambição e ego. É entretenimento de alto calibre, desses que não têm medo de arriscar, e, às vezes, também de tropeçar. A quinta temporada já foi confirmada pela Apple TV+, mas ainda sem data de estreia.

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *